Um povo
coloque-o na cadeia
dispa-o
tape-lhe a boca
ainda é livre.
Leve seu trabalho
o passaporte
a mesa onde come
a cama onde dorme
ainda é rico.
Um povo
torna-se pobre e servo
quando é roubada sua língua
recebida dos pais:
está perdido para sempre.
Torna-se pobre e servo
quando as palavras não
são mais palavras
e devoram-se entre si.
Recordo-me agora,
enquanto afino o violão
do dialeto
que perde uma corda
a cada dia.
Enquanto conserto
a tela corroída por traças
que nossos antepassados teceram
com lã de ovelhas
sicilianas.
E sou pobre:
tenho dinheiro
mas não posso gastar;
jóias
e não as posso presentear ;
o canto
na gaiola
com as asas cortadas.
Um pobre
que é amamentado de
seios secos
da mãe adotiva,
que o chama filho por zombaria.
Tínhamos nossa mãe
e nos roubaram;
tinha seios
fartos de leite
e todos beberam dele
agora cospem.
Nos restou sua voz,
a cadência,
a nota baixa
do som e do lamento:
isto não nos podem roubar.
Não nos podem roubar,
e continuamos pobres e órfãos.
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